Endometriose


Afinal, o que é endometriose?

A endometriose é uma importante doença ginecológica caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero, ou seja, em qualquer outro lugar do corpo.

O endométrio é a camada de tecido composto por glândulas e estroma, que recobre internamente a cavidade do útero, sendo responsável pela menstruação quando descama ao final de um ciclo menstrual.

Endometriose - Dr Gilson Gusmão Endometriose - Dr Gilson Gusmão

Por qual motivo a endometriose surge? 

Algumas teorias apontam as causas do aparecimento do endométrio fora do útero. A mais conhecida é a “menstruação retrógrada”, que ocorre quando o fluxo sanguíneo volta pelas tubas uterinas, sendo derramado nos órgãos próximos, como ovários, peritônio, intestino. Outra teoria muito considerada para o desenvolvimento da doença são falhas no sistema imunológico. Uma outra hipótese estuda a transformação de células, que assumem as características do endométrio, fora do útero.

Como a endometriose se desenvolve?

O tecido endometrial uma vez fora do útero tem a capacidade de implantar e proliferar, aumentando a quantidade de células e o tamanho das lesões de endometriose. A disseminação do endométrio pode se dar por proximidade acometendo tecidos e órgãos pélvicos ou pela corrente sanguínea atingindo órgãos fora da pelve.

A endometriose é hereditária?

Estudos com mulheres gêmeas demonstraram que dentre os fatores de risco para endometriose o caráter hereditário está presente em 51% dos casos. Vários genes podem estar alterados em mulheres com endometriose por isso a doença é considerada poligênica. A presença de casos de endometriose na família é um fator de risco para o desenvolvimento da doença.

A partir de que idade a endometriose pode surgir?

A endometriose acomete mulheres que estão no período reprodutivo, ou seja, período que vai desde a primeira menstruação até a menopausa quando cessam as menstruações. Estudos mostram que um parcela grande de mulheres os sintomas da doença inicial ainda na adolescência. Portanto, a endometriose pode surgir logo após as primeiras menstruações.

Quais são os sintomas da endometriose?

Os principais sintomas da endometriose são:

  • Cólica menstrual (presente em 90-95% dos casos)
  • Dor profunda na vagina ou na pelve durante relação sexual
  • Dor pélvica contínua não relacionada a menstruação
  • Obstipação intestinal ou diarréia no período menstrual
  • Dor para evacuar
  • Sangramento nas fezes
  • Dor para urinar
  • Sangramento na urina
  • Infertilidade

Toda mulher que tem cólica menstrual tem endometriose?

A cólica menstrual ou dismenorréia é um sintoma comum a várias outras doenças ginecológicas além da endometriose.  Ela pode estar presente nos casos de miomas uterinos, adenomiose, pólipos endometriais, mal-formações útero-vaginais, uso de DIU de cobre.  Algumas mulheres podem apresentar cólicas menstruais no inicio das menstruações sem que seja diagnosticada nenhuma doença especifica que leve a este sintoma. Neste caso temos o diagnóstico de dismenorréia primária.

Mulheres que não tem cólicas podem ter endometriose?

Alguns estudos mostraram que cerca de 5% a 16% das mulheres férteis e assintomáticas podem apresentar lesões de endometriose pélvica. Nestes casos, as lesões geralmente são pequenas e superficiais, classificadas como endometriose mínima ou leve.

Quais os locais de acometimento da endometriose?

A pelve feminina é o local mais freqüente de desenvolvimento da endometriose. Os órgãos mais acometidos são os ovários, trompas, ligamentos útero-sacros, peritônio e útero. O intestino, em especial intestino grosso (reto e sigmóide) é o órgão não reprodutivo mais afetado pela doença. A bexiga e os ureteres também podem apresentar lesões de endometriose. Em casos mais raros as lesões podem se apresentar no diafragma, pulmão e em outros locais do corpo.

Porque a endometriose leva a infertilidade

A associação de endometriose e infertilidade já é observada há muitos anos. Estudos prévios demonstraram que as mulheres com endometriose tem uma taxa de fecundidade (chance de engravidar por mês de exposição) bem menor que mulheres sem endometriose. Sabemos que entre 50% a 70% das mulheres com a doença tem infertilidade e que cerca de 40% das mulheres com infertilidade tem endometriose.

A endometriose pode levar a infertilidade por vários mecanismos diferentes:

  • Distorção anatômica – obstrução das trompas, aderências que impedem o transporte do óvulo até o encontro com os espermatozóides no interior da tuba uterina.
  • Mudanças no fluido peritoneal – produção de substâncias  e células inflamatórias que interferem com a interação óvulo-espermatozóide.
  • Desordens ovulatórias – provocadas pelas substâncias inflamatórias e modificações nos folículos ovarianos.
  • Alterações foliculares e embrionárias
  • Anormalidades miometriais
  • Desordens de implantação embrionária – alterações endometriais pela produção local de estrogênio e resistência a progesterona

Mulheres com endometriose tem chance de engravidar?

Cerca de 50% das mulheres com endometriose podem engravidar espontaneamente sem tratamento. Grande parte das pacientes com infertilidade pela endometriose podem engravidar após tratamento adequado. O tratamento clinico habitualmente usado nos casos de endometriose com hormônios e anticoncepcionais não estão indicados para tratamento da infertilidade. A cirurgia por videolaparoscopia com retirada das lesões de endometriose e das aderências pode aumentar as chances de gestação espontânea em mulheres com endometriose em todos os estágios. Em outros casos pode ser necessário a realização de tratamentos com técnicas de reprodução assistida como a inseminação intra-uterina ou a fertilização in vitro (bebê de proveta).

O que devo fazer para saber se tenho endometriose?

Mulheres com sintomas sugestivos de endometriose como cólica menstrual forte, dor na relação sexual, infertilidade, dor ao defecar ou ao urinar e sangramento na urina ou nas fezes devem suspeitar da doença. Caso você tenha estes sintomas, o primeiro passo é consultar com um médico ginecologista que vai avaliar a possibilidade da endometriose com história clínica e exame físico e solicitar os exames necessários para complementar o diagnóstico. Se a suspeita clinica ou os exames mostrarem lesões sugestivas de endometriose o diagnóstico e bastante provável. A confirmação da doença é feita com a videolaparoscopia com visualização das lesões e com a biópsia mostrando endométrio nas lesões retiradas.

Como é feito o diagnóstico da endometriose?

O diagnóstico da endometriose é feito através da presença dos sintomas da doença, de achados no exame físico (principalmente no toque vaginal) e da presença de lesões suspeitas nos exames de imagem. Os principais exames complementares utilizados são a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e ressonância magnética. Outros exames como a ultrassonografia transretal, a colonoscopia, a cistoscopia e urografia excretora podem ser solicitados em algumas situações.

A endometriose é um câncer ou pode se transformar em uma doença maligna?

Apesar de poder atingir vários órgãos distintos e se disseminar localmente ou à distância a endometriose é uma doença benigna. Até o momento nenhum estudo conseguiu mostrar um relação importante entre a endometriose e o câncer ou uma evolução da endometriose para uma doença maligna.

O que é o endometrioma?

O endometrioma o nome que se dá a lesão de endometriose profunda em forma de cistos de endometriose nos ovários. Os endometriomas são cistos preenchidos por sangue escuro envelhecido e por tecido endometrial. Eles podem acometer um ou ambos os ovários ao mesmo tempo. O tamanho dos endometriomas pode variar de lesões pequenas (1-3cm) até lesões grandes (acima de 6-7cm). A presença de endometriomas grandes é uma indicação importante de tratamento cirúrgico.

O que é endometriose profunda?

Endometriose profunda é definida pela presença de lesões de endometriose com mais de 5mm (0,5cm) de profundidade. Em geral, estas lesões aparecem na forma de nódulos e podem acometer qualquer órgão da pelve, em especial os ligamentos útero-sacros, vagina, intestino e bexiga.

Quais os graus da endometriose?

Existem várias classificações propostas para a endometriose. O local e tamanho das lesões e das aderências são os fatores considerados pelas classificações atuais. Na prática são utilizadas hoje duas formas de classificação. A primeira classifica a doença em: endometriose superficial (peritoneal), endometriose profunda infiltrativa, endometriose ovariana e endometriose extra pélvica. A segunda forma de classificação que é a mais utilizada em todo o mundo divida a doença em : endometriose mínima (grau I), endometriose leve (grau II), endometriose moderada (grau III) e endometriose severa (grau IV).

A endometriose tem cura?

A endometriose é considerada uma doença crônica, portanto, sem cura definitiva. Entretanto, os tratamentos com cirurgia ou medicamentos específicos podem permitir uma melhor qualidade de vida às portadoras da doença. Alguns estudos recentes mostraram que cirurgias com exerese minuciosa de todas as lesões visíveis podem diminuir ou retardar a recorrência das lesões e dos sintomas de endometriose.

Existe algum remédio para tratar a endometriose?

Os medicamentos utilizados no tratamento da endometriose não são capazes de promover a cura ou a extinção das lesões. O tratamento medicamentoso tem como objetivo principal a melhora dos sintomas clínicos da doença e eventualmente o retardo na evolução das lesões. As terapêuticas mais prescritas são hormônios que tem a capacidade de inibir a produção de estrogênio pelos ovários e com isso diminuir o estimulo ao crescimento do tecido endometrial dentro e fora do útero (endometriose).  Os anticoncepcionais orais ou injetáveis, de uso cíclico ou continuo com suspensão ou não da menstruação, medicamentos só com progesterona e os análogos do GnRH são os mais utilizados. O tratamento medicamentoso não deve em hipótese alguma ser feito sem a prescrição e acompanhamento médico.

A cirurgia está sempre indicada para o tratamento da endometriose?

A cirurgia preferencialmente por videolaparoscopia ainda é a principal forma de tratamento da endometriose. A retirada das lesões e a das aderências permitem uma melhora da qualidade de vida com diminuição ou extinção da dor e retorno a fertilidade em grande parte das mulheres com a doença. Entretanto, em algumas situações a cirurgia não está indicada. O principal motivo para indicação da cirurgia é a presença de  sintomas de dor e a infertilidade. Mulheres pouco sintomáticas, com diagnóstico já firmado de endometriose, sem lesões importantes com risco iminente de perda de função de algum órgão, podem se beneficiar do tratamento clínico ao invés da cirurgia.

As lesões de endometriose podem reaparecer após a cirurgia?

A recorrência das lesões e dos sintomas da endometriose pode ocorrer em 30 a 50% dos casos até dois anos após a cirurgia. Cirurgias incompletas em que não foi possível a retirada de todas das lesões favorecem a recidiva precoce dos sintomas e de novas lesões.

A retirada do útero resolve a endometriose?

A retirada do útero, apesar de eliminar a menstruação, não resolve a endometriose. As lesões continuam ou podem reaparecer mesmo sem a presença do útero. Os ovários continuam a produzir o estrogênio, hormônio que estimula a proliferação do tecido endometrial.

A endometriose desaparece após a menopausa?

Após a menopausa os ovários já não produzem mais o estrogênio, com isso o endométrio ectópico (endometriose) não é mais estimulado e tende a não proliferar. A menstruação também desaparece após a menopausa. Por isso, os sintomas da doença podem diminuir ou desaparecer. Em muito casos, após a menopausa não há mais necessidade de tratamento.


Fonte: SBE – Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva 

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